terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Hasselblad EDC - A pioneira da Lua

Se, em relação a quem terá sido o primeiro fotógrafo à superfície da Terra, ainda subsistem dúvidas ou polémicas, o mesmo se não poderá dizer quanto ao pioneiro da actividade fotográfica em solo lunar. Chamava-se Neil Armstrong e comandava na altura, a missão Apollo 11 que tocou a superfície da Lua em 20 de Julho de 1969.
Dando continuidade a uma colaboração com a Hasselblad, iniciada quase acidentalmente em 1962 - quando o astronauta Walter Schirra resolveu ir comprar uma 500C a uma loja de fotografia de Houston, antes de viajar para o espaço a bordo do foguetão Mercury -, a Nasa equipou a Apollo com três câmaras da prestigiada marca de Gotemburgo, derivadas do modelo convencional 500EL.
Duas das câmaras tinham sofrido “apenas” remoção do revestimento exterior, do espelho, do obturador auxiliar e do vidro e visor de focagem, com o intuito de reduzir peso; uma delas permaneceu no módulo de comando da missão, enquanto a outra acompanhou Armstrong e Edwin Aldrin a bordo do módulo lunar.
A terceira câmara, uma Hasselblad EDC (Electric Data Camera), acabou por ser a primeira máquina a fotografar em solo lunar. As suas imagens apresentavam um padrão de cruzes característico - que se manteve entre 1969 e 1972 -, sobreposto à fotografia propriamente dita. Tal era resultado da existência, junto ao plano do filme, de uma placa de vidro em que tinha sido previamente gravado o referido padrão, definindo uma malha de 1 cm de lado, que serviria para proceder, posteriormente, a estudos fotogramétricos a partir das fotografias. Para evitar a acumulação de electricidade estática e os consequentes efeitos nefastos sobre o filme, a superfície da placa de vidro foi coberta por uma finíssima camada de material condutor, ligada ao chassis da máquina por duas molas.

A equipa que levou a primeira câmara à Lua
A câmara possuía uma objectiva especialmente projectada para aquela missão, uma Carl Zeiss Biogon 60 mm f:5.6, equipada com um filtro polarizador removível; esse modelo de objectiva seria, mais tarde, posto à venda no mercado.
No sentido de tornar a câmara mais resistente às variações de temperatura ocorrentes à superfície da Lua - de 120 ºC, ao sol, a -65 ºC, à sombra -, foi-lhe aplicado um revestimento prateado, tal como aos dois carregadores de formato 70 mm de 160 fotografias (200, no caso de imagens a preto e branco) que transportavam o filme Kodak  de base fina, perfurado, com que ali se captaram as primeiras imagens.
Desde então, a Hasselblad desenvolveu vários modelos específicos para fotografia no espaço, de entre os quais se destacam a 500 EL/M - usada pela primeira vez num voo conjunto Apollo/Soyuz, em Julho de 1975; a Hasselblad ELX, derivada do modelo 553 ELX e usada no princípio dos anos 90 nas missões do Space Shuttle; ou a moderna e versátil 203 S, equipada com sistema electrónico de impressão de dados.

A Hasselblad EDC em acção na Lua.
É de salientar que, em todas as missões à Lua, só os carregadores com o filme regressavam à Terra, tal era a preocupação em aliviar o módulo lunar de todo o peso considerado supérfluo. Por isso, cerca de uma dúzia de Hasselblad jazem algures na superfície do pequeno planeta, o que poderá constituir um incentivo adicional para um qualquer fotógrafo, adepto do turismo espacial.

2 comentários:

Evandro disse...

Excelente texto, parabéns!!!

José L. Diniz disse...

Muito obrigado, caro Evandro! :-)
Tentamos sempre dar o nosso melhor!

Obrigado por seguir o FotoSubjectiva!