segunda-feira, 2 de maio de 2011

Teste - Amberpixel Ax3 (Parte I)

A promessa estava feita! O equipamento chegou às nossas mãos! Testámo-lo e contamos-lhe como foi. Mas, antes de passarmos aos detalhes desta experiência fantástica, convém fazermos algumas considerações sobre a problemática da fotografia de alta velocidade, dos seus utensílios, das técnicas e dos aspectos a ter em conta, de modo a garantir um bom resultado final.
A fotografia de alta velocidade vai muito para além do registo dos acontecimentos usando os tempos de exposição curtos proporcionados pelos rápidos obturadores de hoje em dia, e da alta taxa de disparos contínuos permitidos pelos modernos equipamentos de tomada de vista.
Por paradoxal que seja, a fotografia de alta velocidade é praticada, muitas das vezes, com recurso a velocidades de obturação muito baixas, que podem chegar a vários segundos.
O elemento-chave, aqui, é a utilização de uma fonte de iluminação ultra-rápida, como é o caso de um flash de alta velocidade, cuja duração chega a ser inferior a 1/40.000”, bastante mais rápida do que a obtida com os obturadores da generalidade das câmaras fotográficas (actualmente, “limitada” a 1/8000”).
No entanto, não é absolutamente necessário usar unidades de flash especiais para garantir que, acontecimentos que duram poucos milésimos de segundo, sejam registados nosso sistema fotográfico. Um flash portátil que permita a regulação da potência de saída até cerca de 1/16 ou 1/32 da potência máxima, costuma ser suficiente para registar o rebentar de um balão ou uma gota de água quando atinge uma superfície dura.
O sincronismo entre flash e câmara é, aqui, o aspecto fundamental a garantir, de modo a que o clarão seja “apanhado” na sua totalidade, no exacto momento em que o evento fotografado se produz. E é aqui que o controlador Amberpixel Ax3 entra em cena, auxiliado pelos respectivos sensores.
Desenvolvido pela empresa portuguesa com o mesmo nome, como já lhe demos conta, aqui (Amberpixel - Controlo total), o Amberpixel Ax3 utiliza três tipos principais de sensores para detectar movimentos, vibrações e sons, e controlar o modo como câmara e flash se articulam no sentido de registar momentos de duração extremamente curta.
Antes de passarmos ao relato da nossa experiência com o controlador, é conveniente dar uma vista de olhos aos princípios de funcionamento de cada um dos sensores utilizados pelo Ax3, incluídos, de série, com o equipamento. Embora já nos permitam cobrir uma razoável gama de situações - o mesmo evento pode, inclusivamente, ser captado com mais do que um sensor -, o FotoSubjectiva sabe que a marca já está a trabalhar noutros tipos de sensores e no próximo equipamento destinado a ajudar o fotógrafo a congelar momentos únicos e, muitas vezes, irrepetíveis.

Três sensores de série
Os seus princípios de funcionamento são bastante simples. No caso concreto, do sensor acústico, tira-se partido do som produzido no decorrer de um acontecimento, e do tempo que demora a percorrer a distância desde o lugar onde é produzido, até ao sensor. Este funciona como um microfone de baixa sensibilidade, gerando impulsos eléctricos que são, depois, descodificados pelo software interno (VibSound Trigger) do Amberpixel Ax3, que faz disparar o flash - montado fora da câmara - e/ou a própria câmara, dependendo do modo como o controlador é configurado.
Da esquerda para a direita: receptor e emissor de infravermelhos,
sensor de som.
O sensor, em si, possui uma forma alongada com um orifício numa das pontas, atrás do qual se divisa a membrana receptora das vibrações sonoras. Da ponta contrária sai o cabo de ligação ao Ax3, que termina numa ficha de tipo "jack", de 2.5”.
A forma alongada e o modo de ligação ao controlador são, também, partilhados pelo sensor de infravermelhos. Ou, melhor dito, pelos sensores, uma vez que se trata de um sistema composto por duas unidades: emissor e receptor. O primeiro quase se confunde, visualmente, com o sensor acústico, distinguindo-se dele pela cor do cabo: vermelho, no emissor de infravermelhos, e azul, no sensor de som.
O receptor é mais fácil de identificar, pela pequena lente destinada a facilitar a captação do estreito feixe de raios, nos casos em que o alinhamento de emissor e receptor não é matematicamente perfeito.
Aspecto do dispositivo de infravermelhos montado para o teste. O
alinhamento de emissor e receptor é crucial.
É precisamente a interrupção desse feixe, de 2 mm de diâmetro, que desencadeia o processo de captação fotográfica, controlado pelas aplicações SlowGate Trigger - para eventos “lentos”, como o de uma gota de água - e FastGate Trigger - para eventos rápidos, como o de um projéctil. O seu êxito está relacionado com o tempo que o objecto em movimento demora a percorrer a distância entre a posição do feixe e o ponto onde se pretende registar esse mesmo movimento, ou os seus efeitos. Por imperativos de alinhamento e consumo de energia, a distância máxima entre emissor e receptor está, neste modelo pioneiro, limitada a cerca de 60 centímetros.
O receptor poderá, ainda, ser utilizado para fotografar relâmpagos, durante uma trovoada, com o auxílio do programa de controlo Lighting Shoot.
Tanto o sensor de som como os de infravermelhos possuem uma rosca para tripé, de modo a ajudar a garantir o respectivo alinhamento. A sua medida europeia (M6) diverge das normas aplicadas nos tripés mais correntes, o que poderá impedir que se chegue ao fim do respectivo curso.
O sensor de vibração é, dos três que são fornecidos de série com o Amberpixel Ax3, o que possui a forma mais simples: uma pequena placa negra ligada a um fio, é tudo o que conseguimos ver a partir do exterior. O seu princípio de funcionamento é, também ele, bastante simples de compreender: uma vez detectada uma vibração - normalmente, causada pelo impacto de um objecto - é accionada a aplicação correspondente - a mesma que para o sensor acústico (VibSound Trigger) que faz disparar o flash e/ou a câmara, caso o controlador esteja configurado para tal.
O sensor de vibrações é o que tem o aspecto mais simples.
De modo análogo aos restantes sensores, o aspecto final do evento fotografado com o sensor de vibração depende muito do valor do atraso que escolhermos, ao configurar o controlador.
Como acessório opcional, está também disponível um microfone dinâmico, de alta sensibilidade, que poderá substituir o sensor acústico nos casos em que o nível sonoro produzido pelo evento fotografado seja muito reduzido. Aqui, a aplicação a usar é a DynaMic Trigger.
A sensibilidade de cada um dos sensores, isto é, a sua susceptibilidade para desencadear o processo de captação, pode ser regulada segundo uma escala de 1 a 9, no menu “Trigger Levels” do Ax3. Um valor mais alto significa uma menor sensibilidade do sensor.

O controlador
Com menos de 15 cm de dimensão máxima, e um peso inferior a 200 gramas (excluindo a pilha de 9V que proporciona a energia necessária à alimentação de controlador e sensores), o Amberpixel Ax3 é suficientemente pequeno para ser transportado para qualquer lado.
De design sóbrio e algo “rectro”, o controlador Ax3 possui um mostrador iluminado, à boa moda de muitos aparelhos electrónicos dos anos 80. Não terá a aparência “glamourosa” dos actuais “smartphones” de última geração, mas desempenha perfeitamente a sua função, em conjunto com o comando multidireccional, de 4 botões dispostos em torno de um botão central.
O invólucro exterior, em preto e cinzento, da versão final substituiu o amarelo forte do protótipo apresentado inicialmente.
Fichas para ligação dos componentes do sistema. Da esquerda
para a direita: emissor de infravermelhos, flash, câmara, sensor
de vibração/som, microfone dinâmico, receptor de infraverme-
lhos.
No topo superior do Ax3, além do interruptor geral, existe um conjunto de 6 tomadas, marcadas de forma intuitiva com ícones que identificam os diferentes tipos de sensores utilizáveis, a câmara fotográfica e o flash - obrigatoriamente associado a este tipo especializado de fotografia. O Ax3 foi concebido especialmente para a fotografia de alta velocidade e, por isso, do seu firmware constam aplicações destinadas a trabalhar com os tipos de sensores mencionados.
Neste primeiro artigo, referimo-nos apenas a eles. No entanto, o primeiro modelo da Amberpixel vem equipado com outras funcionalidades igualmente interessantes, fora do âmbito específico da fotografia de alta velocidade; é o caso do intervalómetro - que permite captar imagens a intervalos de tempo regulares -, a fotografia de alta gama dinâmica (HDR), em ambiente nocturno.
Oportunamente daremos a conhecer as nossas impressões acerca dessas funcionalidades adicionais.

Sincronismo, exposição e focagem
O Amberpixel Ax3 permite sincronizar o flash com o obturador da câmara, até tempos de exposição de 1 microssegundo (1/1.000.000”) - dados do fabricante. Para saber qual o tempo mínimo de duração do clarão do seu flash deve consultar o respectivo manual de instruções. Também podem ser utilizados vários flashes para criar efeitos na imagem, ou por exigências na própria exposição. Nestes casos, um deles deverá ser ligado ao Ax3, enquanto os restantes deverão disparar por simpatia, utilizado unidades concentradoras, células escravas ou a funcionalidade integrada, quando existir.
A exposição a dar na câmara fotográfica deverá ser previamente determinada com um fotómetro de mão - de preferência - transferindo o valor da abertura do diafragma encontrado, para a câmara. Esta deverá ser colocada em modo manual de exposição e, na escala de tempos de exposição, deverá ser escolhido um valor menor ou igual ao máximo permitido pela câmara, para sincronia.
Em manual, deverá estar também o selector do modo de focagem, já que a rapidez com que os eventos fotografados se desenrolam não deixa margem ao tempo de reacção do fotógrafo, nem ao do sistema de focagem/obturador, para garantir o êxito da captação, de forma repetida e consistente. Voltamos, assim, aos bons velhos tempos da focagem à zona, isto é, focamos previamente a objectiva para o ponto onde se irá produzir a acção.
No nosso teste usámos o flash
Nikon Speedlight SB-80DX.
A utilização do modo de pose (Bulb), em ambiente de escuridão quase total é a que mais facilmente se adapta à fotografia de alta velocidade, com o Amberpixel Ax3. Também é possível, utilizar outras configurações de tempo de exposição; mas, tal, implica maior complexidade de trabalho, uma vez que temos que ter em conta o atraso do disparo da câmara utilizada.
A sequência de passos dados pelo sistema, a partir do momento em que, seleccionado o programa apropriado e a respectiva parametrização, se escolhe a opção “Execute” é o seguinte: abre-se o obturador da câmara; o controlador espera pelo evento; quando este se produz, o flash é disparado de acordo com o atraso especificado; o obturador fecha.

O teste
Como já referimos atrás, nesta parte do teste ao controlador Amberpixel Ax3 apenas estiveram envolvidos sensores específicos para fotografia de alta velocidade.
Para avaliar o desempenho do sensor acústico, escolhemos um exemplo clássico: o do rebentamento de um balão. De modo a não prejudicar o enquadramento, na primeira tentativa, colocámos o sensor a cerca de 80 cm daquele, montado em tripé. Como fonte de iluminação, usámos um pequeno flash Nikon Speedlight SB-80 DX, com a respectiva potência de saída ajustada para 1/16 da potência máxima, de modo a diminuir a duração do clarão para valores compatíveis com a duração do evento.
O rebentamento foi provocado pelo arremesso de uma seta, depois de se ter apagado a luz do estúdio e provocado a abertura do obturador (posição Bulb), com o comando “Execute” do controlador.
Foto 1: Sensor de som, colocado a cerca de 80 cm
do balão. Uma pequena porção de farinha foi
colocada no balão, previamente ao seu enchimen-
to, de modo a criar o efeito observado
O efeito sensorial provocado pelo evento é fantástico; um monumental estouro, acompanhado de um breve clarão, e tudo volta à escuridão inicial, apenas interrompida pelos 2 segundos que dura a exibição da imagem processada, no monitor da Sony A900, utilizada no teste. A Foto 1 mostra esse resultado.
Foto 2: Sensor de som quase colado ao balão. Este foi
rebentado com uma agulha.
Quisemos, depois, registar os primeiros momentos do rebentamento. Para isso, deslocámos o sensor para trás do segundo balão, escondendo-o quase colado à superfície deste. O efeito é, no mínimo, surpreendente, como é visível na Foto 2, com o balão quase intacto.
As propriedades da propagação do som também foram exploradas para registar o momento em que uma garrafa era partida, por acção de um martelo. Neste caso, o (relativamente) baixo nível sonoro do evento, e a necessidade de protecção da integridade do próprio sensor, aconselharam a utilização de um microfone dinâmico, colocado a cerca de 1.5 a 2 metros de distância. A miríade de detritos, resultante, foi “congelada” sem dificuldade (Foto 3).
Foto 3: Um nível sonoro (relativamente) baixo e a necessidade de protecção do equipamento aconselha-
ram a utilização de um microfone dinâmico (opcional) para captar este evento.
Estes resultados mostram a dependência do aspecto final do balão, depois de rebentado, da proximidade do sensor - aqui, foi utilizado um atraso nulo. Mas há que considerar outros factores; como por exemplo, a quantidade de ar que tenhamos introduzido previamente no balão; a pressão instalada no seu interior determina a violência da explosão e a velocidade a que os fragmentos voam pelos ares.
No caso do sensor de vibração, foi utilizada uma placa rígida sobre o próprio sensor, como forma de o proteger do impacto, e para permitir a colocação prévia dos objectos que queríamos fotografar - berlindes -, neste caso, em pleno voo, induzido pelo impacto de um punho. A energia libertada pelo impacto transmite-se aos berlindes, que saltam de imediato, até uma determinada altura; esta é função das propriedades físicas da base, dos próprios berlindes e da força aplicada.
Foto 4: Eis o que acontece quando, literalmente, se dá "o murro na mesa".
O atraso definido no controlador desempenha um papel determinante do aspecto final da imagem obtida. A Foto 4 foi obtida com um valor próximo dos 20 milissegundos. Um atraso de 0 ms foi usado no caso da Foto 5. Aqui, uma “chuva” de berlindes é fotografada no preciso momento em que o primeiro deles toca a base.
Foto 5: "Chuva" de berlindes, no exacto
momento em que o primeiro deles toca
a base que cobre o sensor de vibra-
ções.
Foto 6: O exacto momento em que um berlin-
de interrompe o feixe de infravermelhos. Nes-
te caso, os suportes dos sensores, foram usa-
dos como elementos da própria composição.
(Foto gentilmente cedida pela Amberpixel)
O teste ao sensor de infravermelhos envolveu fotografar o efeito produzido pelo impacto de uma gota de água corada, sobre uma base. Sendo o mais complexo de implementar, de entre os três sensores ensaiados, é também um dos que pode proporcionar a maior variedade de efeitos. Desde o movimento de queda da própria gota, no momento em que interrompe o feixe de infravermelhos, até ao auge do “splash”, algumas dezenas de centímetros, abaixo (Foto 7), tudo é possível de obter.
A título de curiosidade, refira-se que o atraso usado para a obtenção desta última foi de 283 ms. Uma vez mais, o atraso desempenha um papel fundamental no aspecto da imagem obtida. Mas está longe de ser o único factor a ter em conta; o tamanho da gota, a respectiva altura de queda, o tipo de superfície e a densidade do líquido, também podem determinar o êxito ou o fracasso, na obtenção do efeito desejado. Na prática, a facilidade com que podemos ajustar o atraso, no controlador - em função da observação dos resultados das sucessivas tentativas - permite que nos preocupemos quase exclusivamente com o atraso entre a passagem da gota de água pelo feixe de infravermelhos e o disparo do flash.
Foto 7: Efeito produzido pelo impacto de uma gota de água corada sobre a superfície de um líquido.
Este é o aspecto do evento, 283 milissegundos depois de a mesma gota ter interrompido um feixe de
infravermelhos, algumas dezenas de centímetros, acima.

Conclusão
Fotografar acontecimentos cuja duração escapa ao nosso olhar é uma tarefa tudo menos fácil. É possível que a sorte nos bafeje, uma vez ou outra, nas nossas tentativas de nos anteciparmos ao acontecimento, usando a nossa capacidade de previsão e/ou o modo de disparos contínuos. Mas, o mais provável - se conseguirmos captar o momento-chave da acção - é que a imagem fique arrastada, devido à falta de rapidez do próprio obturador. Um trabalho consistente requer, por isso, a utilização de métodos e equipamentos muito distintos dos utilizados na fotografia corrente, com luz contínua.
Ao longo do tempo, muitos fotógrafos que se dedicavam à alta velocidade utilizavam equipamentos artesanais, desenvolvidos por si próprios ou encomendados expressamente para fins específicos, com apenas um tipo de sensor.
O que o Amberpixel Ax3 nos oferece é a integração de vários sensores com um só controlador, permitindo ao fotógrafo escolher o que mais lhe convém, para cada trabalho fotográfico.
Fácil de transportar e de operar - embora requerendo um curto período de habituação - deu excelente conta de si, no tocante a garantir um correcto sincronismo entre câmara e flash, bem como grande liberdade de ajustamento do atraso, ao milissegundo.
Não nos surpreenderia que as suas boas prestações e preço moderado (360 €, PVP) viessem, no curto prazo, a dinamizar a fotografia de alta velocidade, a uma razoável escala. De momento, apenas está disponível em www.amberpixel.pt, mas a marca planeia alargar a sua distribuição, em breve.

2 comentários:

Anónimo disse...

Inovador !! Tenho imaginação para muitas tipos de fotografia, mas não tinha a tecnologia (acessível) disponível.
Vou adquirir o equipamento e fotografar muito (deixando o aspecto sorte de lado) e com bons resultados em vez de muitas tentativas (horas) para se consegui o que se pretende.

Gustavo Dias disse...

Espectacular! Desconhecia a existência deste tipo de dispositivos.