sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Leica 0 - O início de um mito

Em 1849, um jovem matemático alemão chamado Carl Kellner criava o Instituo Óptico de Wetzlar, que se dedicava a projectar, desenvolver e fabricar componentes para microscópios. Naturalmente, estaria muito longe de pensar que a empresa que então fundava, viria a ser, cerca de 150 anos mais tarde, a referência mundial que hoje constitui o nome “Leica”.
Da mesma forma, Ernst Leitz, um mecânico de precisão que assumiu o controlo integral da companhia em 1869, não podia prever o crescimento da empresa até ao ponto de se tornar no actual grupo Leica Camera AG, com sede na cidade alemã de Solms.
O pontapé de saída para esta dinâmica de crescimento, a que se associou a criação de um mito – o mito Leica – foi dado pelo (também) mecânico e fotógrafo, Oskar Barnack, a partir do momento em que resolveu desenvolver um novo método de produzir fotografias. Cansado de transportar as pesadas câmaras e tripés da época, ocorreu-lhe a ideia de que, utilizando um formato de filme mais pequeno e procedendo posteriormente à ampliação dos negativos revelados, o processo ficaria muito facilitado, do ponto de vista da comodidade de trabalho.
Aproveitando as películas de 35 mm, então utilizadas em cinema, conseguiu construir um protótipo – a Uhr Leica – em 1913, com que produziu as primeiras imagens no ano seguinte.
Com o seu desenvolvimento interrompido pela I Guerra Mundial. O protótipo daria origem à Leica 0, precursora do aparecimento no mercado da primeira câmara fotográfica de formato 24 x 36 mm, em 1925, na cidade de Leipzig. Três quartos de século mais tarde, a marca voltou a propor a Leica 0, com adaptações muito ligeiras na sua estrutura, de modo a utilizar os rolos de filme mais modernos, e uma melhoria no revestimento da objectiva Leitz Anastigmat 50 mm f:3.5, fixa, colapsável, que a equipava.
As características operacionais desta pioneira dos tempos modernos reservam algumas surpresas, Por exemplo, o enquadramento da imagem é feito por meio de um visor externo constituído por uma armação metálica basculante, munida de uma lente na qual foi gravado um retículo. Este deve ser alinhado com uma mira metálica existente na parte frontal da câmara.
Por outro lado, o obturador de plano focal é constituído por duas cortinas sincronizadas, afastadas entre si, de 2 a 50 mm, consoante a velocidade de obturação desejada (1/20” a 1/500” + B). A característica peculiar consiste no facto de, no anel das velocidades de obturação, estarem gravados, não os valores das mesmas, mas os valores dos próprios afastamentos. A ranhura entre as cortinas do obturador permanece aberta durante o processo de arrastamento do filme/armação do obturador, contrariamente aos obturadores de cortina mais recentes. Como tal, havia necessidade imperiosa de  colocar a tampa na objectiva, como forma de prevenir a veladura do filme durante a realização daquela operação, o que se mantém na versão mais actual.
Não sendo a primeira câmara de pequeno formato a ser disponibilizada no mercado – antes, já se fabricavam câmaras espias, por exemplo – a Leica 0 foi-o no que respeita à mais avançada tecnologia de precisão existente na época. A versão mais recente transporta-nos ao passado e permite, ao mesmo tempo, usufruir do prazer de fotografar com um objecto de colecção.

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