O conceito de câmara reflex
de objectiva intermutável, de 35
mm , completou sete décadas de existência em 2006, após a
demonstração da sua viabilidade, em 1936, pela Kine-Exakta. No entanto, nos
modelos pioneiros, a imagem era vista de cima para baixo, directamente sobre o despolido
de focagem e, como tal, invertida da esquerda para a direita.
Na mesma cidade, Dresden, um
outro fabricante, a Zeiss Ikon, começou a encarar seriamente a possibilidade de
criar um aparelho de formato 35
mm , que permitisse a observação da imagem de uma forma
muito mais cómoda, na horizontal, e sem a desvantagem da referida inversão
lateral. Esse aparelho teria como base os modelos de visor directo da Contax,
produzidos pela empresa, havia poucos anos, a que se adicionaria espelho e
pentaprisma. A ideia partiu do projectista-chefe, Hubert Nerwin, mas o seu
desenvolvimento viu-se rapidamente condicionado pela Segunda Guerra Mundial.
No âmbito do esforço de
guerra, as autoridades alemãs de então ordenaram a suspensão de todos os
projectos civis, pelo que Nerwin e seus colaboradores apenas dispunham da hora
do almoço e dos seus tempos livres pessoais para dar forma ao projecto.
As principais dificuldades
advinham do facto de o obturador vertical das câmaras existentes possuir
roletes acima e abaixo da janela do filme, obrigando à inclinação do vidro de
focagem para a parte frontal da câmara. Dessa forma, a distância focal mais
curta, possível de usar, era de 85
mm manifestamente insuficiente para muitas utilizações.
Ainda assim, em 1941encontrava-se pronto um protótipo da nova câmara, que
deveria entrar em produção, segundo os responsáveis da Zeiss Ikon, logo após o
fim da guerra. Estavam longe de prever que a fábrica seria destruída, quase por
completo, durante os bombardeamentos de Dresden, em 1945.
O colapso quase total da
empresa e a ocupação das tropas soviéticas instigaram os responsáveis a estabelecer
nova base operacional na fábrica que a empresa possuía em Estugarda, embora
mantendo ligação às origens. Nerwin entregou o projecto da nova Contax ao jovem
Wilhelm Wizenburg - baseado em Dresden - cujos esforços culminaram com a
apresentação oficial da Contax S, em 1949, na feira de Leipzig, justamente no
ano em que foi fundada a RDA; este facto acabaria por marcar a divisão da
própria Zeiss.
Pelo meio ficaram anos de
grandes dificuldades, num país que tinha ficado de rastos e onde era quase
impossível encontrar componentes tão essenciais como os simples parafusos.
Foi neste contexto que surgiu
a câmara que viria a marcar o ritmo da indústria fotográfica nos anos
subsequentes, e que ainda hoje se mantém. Curiosamente, a designação “S”, de
“Spiegel” (espelho), nunca foi aposta nos modelos da marca alemã.
Tecnicamente, o aparelho era
dotado de um novo obturador mecânico, de plano focal e curso horizontal, com velocidades de obturação
repartidas por duas gamas: de 1/1000” a 1/50”, a gama alta, e 1/20” a 1” ou gama baixa. Outra inovação
importante foi o novo encaixe de rosca M42, que viria a constituir a norma para
muitas outras marcas, entre as quais a Praktica. Esta última adoptaria
igualmente, mais tarde, o conceito do botão disparador situado no painel
frontal da câmara, numa posição inclinada. No capítulo da fotografia com flash,
há a referir um pormenor curioso que tem a ver com o facto de a máquina
sincronizar automaticamente no modo X, quando se usava a gama baixa de velocidades de obturação ,
e no modo M, quando se privilegiavam as velocidades da gama alta.
A história da Contax S é,
como vimos feita de avanços e recuos, e de dificuldade extremas, mas também o é
de coragem e génio, como o são muitos momentos marcantes da História. E esta
Contax marcou um desses momentos.
1 comentário:
Viva Zé,
Eu como coleccionador e utilizador desta Grande Marca, que infelizmente deixou de produzir, dou os meu parabéns por este artigo apresentado na tua NL.
Bom Natal e um Fantástico 2011
Abraço,
Paulo Veloso
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