segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Contax S - Quando o futuro começou

O conceito de câmara reflex de objectiva intermutável, de 35 mm, completou sete décadas de existência em 2006, após a demonstração da sua viabilidade, em 1936, pela Kine-Exakta. No entanto, nos modelos pioneiros, a imagem era vista de cima para baixo, directamente sobre o despolido de focagem e, como tal, invertida da esquerda para a direita.
Na mesma cidade, Dresden, um outro fabricante, a Zeiss Ikon, começou a encarar seriamente a possibilidade de criar um aparelho de formato 35 mm, que permitisse a observação da imagem de uma forma muito mais cómoda, na horizontal, e sem a desvantagem da referida inversão lateral. Esse aparelho teria como base os modelos de visor directo da Contax, produzidos pela empresa, havia poucos anos, a que se adicionaria espelho e pentaprisma. A ideia partiu do projectista-chefe, Hubert Nerwin, mas o seu desenvolvimento viu-se rapidamente condicionado pela Segunda Guerra Mundial.
No âmbito do esforço de guerra, as autoridades alemãs de então ordenaram a suspensão de todos os projectos civis, pelo que Nerwin e seus colaboradores apenas dispunham da hora do almoço e dos seus tempos livres pessoais para dar forma ao projecto.
As principais dificuldades advinham do facto de o obturador vertical das câmaras existentes possuir roletes acima e abaixo da janela do filme, obrigando à inclinação do vidro de focagem para a parte frontal da câmara. Dessa forma, a distância focal mais curta, possível de usar, era de 85 mm manifestamente insuficiente para muitas utilizações. Ainda assim, em 1941encontrava-se pronto um protótipo da nova câmara, que deveria entrar em produção, segundo os responsáveis da Zeiss Ikon, logo após o fim da guerra. Estavam longe de prever que a fábrica seria destruída, quase por completo, durante os bombardeamentos de Dresden, em 1945.
O colapso quase total da empresa e a ocupação das tropas soviéticas instigaram os responsáveis a estabelecer nova base operacional na fábrica que a empresa possuía em Estugarda, embora mantendo ligação às origens. Nerwin entregou o projecto da nova Contax ao jovem Wilhelm Wizenburg - baseado em Dresden - cujos esforços culminaram com a apresentação oficial da Contax S, em 1949, na feira de Leipzig, justamente no ano em que foi fundada a RDA; este facto acabaria por marcar a divisão da própria Zeiss.
Pelo meio ficaram anos de grandes dificuldades, num país que tinha ficado de rastos e onde era quase impossível encontrar componentes tão essenciais como os simples parafusos.
Foi neste contexto que surgiu a câmara que viria a marcar o ritmo da indústria fotográfica nos anos subsequentes, e que ainda hoje se mantém. Curiosamente, a designação “S”, de “Spiegel” (espelho), nunca foi aposta nos modelos da marca alemã.
Tecnicamente, o aparelho era dotado de um novo obturador mecânico, de plano focal e curso horizontal, com velocidades de obturação repartidas por duas gamas: de 1/1000” a 1/50”, a gama alta, e 1/20” a 1” ou gama baixa. Outra inovação importante foi o novo encaixe de rosca M42, que viria a constituir a norma para muitas outras marcas, entre as quais a Praktica. Esta última adoptaria igualmente, mais tarde, o conceito do botão disparador situado no painel frontal da câmara, numa posição inclinada. No capítulo da fotografia com flash, há a referir um pormenor curioso que tem a ver com o facto de a máquina sincronizar automaticamente no modo X, quando se usava a gama baixa de velocidades de obturação, e no modo M, quando se privilegiavam as velocidades da gama alta.
A história da Contax S é, como vimos feita de avanços e recuos, e de dificuldade extremas, mas também o é de coragem e génio, como o são muitos momentos marcantes da História. E esta Contax marcou um desses momentos.

1 comentário:

Paulo Veloso disse...

Viva Zé,

Eu como coleccionador e utilizador desta Grande Marca, que infelizmente deixou de produzir, dou os meu parabéns por este artigo apresentado na tua NL.

Bom Natal e um Fantástico 2011

Abraço,

Paulo Veloso