domingo, 6 de fevereiro de 2011

Ansco ShurShot - Simplicidade divertida

Na fotografia, é geralmente reconhecido que uma caixa estanque à luz, uma lente para formar a imagem, um visor para enquadrar, um mecanismo que permita dosear a entrada de raios luminosos e uma estrutura de suporte para o material sensível são ingredientes suficientes para a construção de uma máquina fotográfica. Esta filosofia minimalista terá estado, porventura, na base do fabrico, entre os anos 30 e 50 do século XX, de uma série de equipamentos de aspecto “caixotesco”, destinados ao grande público, e de que a Ansco ShurShot é um exemplo. De concepção desconcertantemente simples, representa uma geração de câmaras de muito baixo custo e grande facilidade de utilização, preocupação sempre presente, de resto, ao longo da história da indústria fotográfica.A constituição da câmara resumia-se praticamente a uma caixa de madeira e cartão, forrada exteriormente a couro, e fechada, nos topos, por tampas metálicas. A tampa frontal apresentava duas lentes que faziam parte dos dois visores reflex que a equipavam; um para fotografia de retrato e outro para a paisagem. Uma abertura central permitia o acesso directo ao obturador metálico, rotativo, que além de proporcionar uma velocidade única, próxima de 1/60”, servia também de tampa protectora a uma lente de tipo menisco.
A qualidade das suas imagens era bastante razoável no centro, mas diminuía significativamente para os bordos, como seria de esperar com uma lente deste tipo. Do interior, destacava-se (literalmente) um estranho carregador para filme de tipo 120, construído em metal e cartão, cujo quadro proporcionava a obtenção de imagens com formato aproximado de 6 por 8 cm. De manuseamento delicado, obrigava a grande cuidado, sobretudo na operação de carregamento do filme. Uma pega em couro na parte superior da câmara permitia o seu fácil transporte, ao mesmo tempo que lhe conferia um toque de elegância.
Fabricada nos Estados Unidos da América desde 1932 (embora sob licença da alemã Agfa, com a qual partilhava o nome ShurShot), esta Ansco tinha como atractivo a sua insuperável simplicidade e rapidez de operação; nada mais que um simples accionar da patilha do obturador, depois de escolhida a composição com um dos visores. Compreensivelmente, tratando-se de uma câmara tão simples, não deixava ao utilizador grande margem no que respeita à escolha da sensibilidade do filme - habitualmente ISO 100, para dias soalheiros - mas, em contrapartida, libertava-o das preocupações com avarias nalgum sistema de focagem ou circuito electrónico, como acontece hoje em dia.
Como é habitual, outras propostas foram sendo apresentadas ao longo do período de produção do modelo, incluindo acessórios como máscaras de formato, e sincronismo para flash. Hoje, contudo, é na sua configuração mais simples que a câmara se torna mais divertida de utilizar. A falta de nitidez nos bordos da imagem pode, inclusivamente, ser explorada em termos estéticos para transmitir sensações de algum misticismo e suavidade; e esta Ansco fá-lo com inegável eficácia.

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